"É aqui que o clube deve e deseja estar todos os anos"
18 Set, 2025
Pedro Gonçalves perspectivou a UEFA Champions League (e não só) em entrevista ao Jornal Sporting
Arranca hoje a quarta participação Leonina nas últimas cinco edições da UEFA Champions League e, para a lançar, o Jornal Sporting esteve à conversa com Pedro Gonçalves, presença constante em todas. “É onde o Clube deve e deseja estar todos os anos”, realçou numa entrevista em que projectou, também, a primeira jornada e traçou os objectivos europeus. No plano individual, ‘Pote’ arrancou 2025/2026 em grande - dentro e fora de campo -, admitiu que se sente “cada vez melhor” e acredita na capacidade do grupo para “fazer uma boa época”. Uma entrevista para ler aqui e no Jornal Sporting n.º 4044, já disponível em formato digital e nas bancas a partir de sexta-feira.
Uma nova época e o Sporting CP volta a estar na UEFA Champions League. Esta ‘assiduidade’ é demonstrativa do patamar em que o Clube está actualmente?
É essa a mensagem que a Direcção e mesmo nós, jogadores, passamos: poder estar nos maiores palcos, que é onde o Clube deve e deseja estar todos os anos. É disso que temos de nos mentalizar. A Champions é um palco onde qualquer jogador quer jogar.
A UEFA Champions League é, efectivamente, uma competição diferente para um jogador?
É especial. Eu já pude jogá-la pelo Sporting CP e certamente que os novos jogadores, que a vão jogar pela primeira vez, vão sentir aquele 'bichinho' na barriga, mas eu também. É um motivo de orgulho chegar ao patamar onde estão as melhores equipas da Europa. É sempre especial entrar, sentir o ambiente da Champions e ouvir o hino enquanto estamos em fila à espera que o árbitro apite.
Não joga na prova desde a vitória frente ao Manchester City FC (4-1), mas e de marcar na Champions, também já tem saudades? Todos os quatro golos que tem na prova foram apontados na sua primeira edição, em 2021/2022 – um ‘bis’ ao Beşiktaş JK e outro, consecutivo, ao Borussia Dortmund.
Já sinto, sim. Trabalho sempre para marcar, para assistir, mas principalmente para que a equipa ganhe e possa passar à próxima fase.
E está a dois golos apenas de igualar Viktor Gyökeres e Liedson no topo da lista de melhores marcadores de sempre, ao serviço do Sporting CP, na Champions. É um objectivo que tem em mente?
Sinceramente, o meu objectivo é poder estar lá dentro e desfrutar da Champions. Vivo o dia a dia, mas se marcar e conseguir atingir o recorde de golos irei ficar muito feliz.
Olhando para a edição deste ano, que está prestes a começar, o que achou dos adversários saídos em sorte nesta nova fase de liga?
Acho que vamos conseguir disputar cada jogo pelo jogo. Claro que há sempre os ditos 'tubarões' que são difíceis de defrontar e dão aquela motivação extra para dar o máximo pelo Clube, mas olhamos para cada jogo e sentimos que podemos ganhar a qualquer equipa.
No ano passado, a equipa fez 11 pontos e qualificou-se em 23.º (de 24) para o play-off de acesso aos ‘oitavos’, onde foi eliminada pelo Borussia Dortmund. Com que aspirações partem desta vez na UEFA Champions League?
Queremos fazer o melhor possível. Ir ao play-off é o objectivo.
E hoje é o início da caminhada, em Alvalade, diante do FC Kairat. Embora seja apenas o primeiro de oito jogos, acredita que é desde logo um momento muito importante? Na época passada ficou à vista que qualquer ponto e, até, qualquer detalhe na diferença de golos conta e muito.
Sim, vai ser muito importante e é em nossa casa, com os nossos adeptos. Já estou aqui há tanto tempo e têm aparecido sempre para apoiar a equipa. Mesmo nos maus momentos estão sempre lá e o mais importante é que sintam orgulho na equipa que joga dentro de campo e que representa o Clube. Vamos sentir o apoio deles e dar o nosso melhor.
Tendo em conta o adversário do Cazaquistão, a partir daquilo que já estudaram e têm trabalhado, que tipo de desafio esperam na estreia?
Sabemos que vai ser uma equipa de muita entreajuda e que defende bastante bem num 4x4x2 que pode ficar em 4x2x3x1. O míster já nos deu algumas nuances para fazer e é isso que vamos seguir para contrariar o que o FC Kairat faz.
Frente ao Sporting CP, o FC Kairat vai fazer o seu primeiro jogo de sempre na Champions League. O facto de, só pela presença, já estarem a fazer História e, por isso, estarem ‘soltos’ de grandes responsabilidades, sem nada a perder, é algo que pode trazer outra imprevisibilidade ao jogo?
Sim, às vezes, estes são jogos que se complicam, mas queremos entrar concentrados ao máximo, sem deixar que o adversário imponha o seu jogo. Sabemos, também, que o FC Kairat já leva 33 jogos esta temporada, mas vamos tentar impor o nosso ritmo e fazer o nosso futebol.
Com a mudança de fase de grupos para fase de liga, há mais jogos e sempre com adversários diferentes. Depois da primeira experiência no ano passado, o que pensa sobre este formato actual?
Pessoalmente, prefiro este. Temos sempre mais dois jogos, ou quatro se ficarmos no lugar de play-off, mas no que toca aos confrontos prefiro este, porque não estamos a defrontar duas vezes o mesmo adversário e, assim, é mais divertido.
Recordando tudo o que já viveu nesta competição europeia, desde 2021 até agora, quais escolheria como os grandes momentos?
Na primeira época, passar aos oitavos-de-final naquele jogo em casa contra o Borussia Dortmund foi um momento marcante na competição, no ano passado, a vitória ao Manchester City FC também o foi para o Clube e o plantel.
Agora, olhando de forma global para o arranque em 2025/2026. A nível individual, pode dizer-se que o pior - a lesão e os cinco meses de ausência - já ficou para trás e, virada a página, atravessa de novo um excelente momento a nível futebolístico, mas também pessoal?
Sim, é verdade. Sinto-me cada vez melhor. Parecendo que não, ainda foi há pouco tempo que me lesionei, mas tento dar o meu máximo para que isso não volte a acontecer. O momento em casa [como pai] também tem sido único, fantástico, e às vezes até me faz esquecer as ‘dorezinhas’ musculares que possa ter. Tento sempre estar o mais presente possível e desfrutar ao máximo. É incrível estar a viver este momento.
A equipa chega à estreia na UEFA Champions League com 12 pontos em 15 possíveis na Liga e duas derrotas com rivais, na Supertaça com o SL Benfica e no campeonato com o FC Porto. Como avalia este início de temporada?
Dentro do grupo sentimos que podemos ganhar todos os jogos, e é esse o nosso objectivo. Por vezes, o adversário tem o seu mérito, consegue ganhar e nós não vamos vencer todos os jogos, mas temos a nossa mentalidade clara. Tem sido um bom arranque, mas podia ser melhor, claro, trazendo a Supertaça para casa e não perdendo em Alvalade, porque o nosso estádio tem de ser a nossa maior fortaleza.
Em termos de jogo, acredita que o Sporting CP é, hoje, uma equipa que se comporta e organiza de maneira muito diferente em campo quando comparado aos anos anteriores ou nem tanto?
Temos ali alguns detalhes diferentes. Eu, pessoalmente, acho que jogo mais ou menos na mesma posição e faço os mesmos movimentos. Talvez a maior diferença seja na defesa, com a linha de quatro ou a de três na construção, mas hoje o futebol tem de ser cada vez mais imprevisível. As equipas adversárias olham muito homem-a-homem, por isso às vezes temos de ficar com quatro [atrás], outras com três. O míster está bastante adaptado a isso e gosta muito de ouvir os jogadores e de saber como cada um de nós se sente confortável. Penso que vamos fazer uma boa época.
No seu papel, provavelmente, a principal mudança até é a troca no avançado que o acompanha no ataque, com Luís Suárez como mais utilizado. Em que aspectos mudou a forma como se associa e liga com o novo ponta-de-lança e as suas características?
Com o Viktor [Gyökeres] demorámos mais a adaptar-nos, porque não era um jogador que procurava tanto as ligações, o primeiro toque e aquelas 'tabelinhas', e sim mais a profundidade. Nessa altura, custou-me mais adaptar-me ao estilo de jogo dele, mas depois fez a História que sabemos pelo Clube. Agora, o início tem sido bastante fácil a jogar com o Luís e o Trincão. Temos feito o que o míster pede, com as nossas qualidades individuais, penso que o jogo está a fluir bem e de certeza que vai continuar. Vamos fazer ainda melhores exibições.
Luis Suárez foi uma de várias caras novas para 2025/2026, nomeadamente Giorgi Kochorashvili, Georgios Vagiannidis, Ricardo Mangas e, mais recentemente, Fotis Ioannidis. Sendo um dos jogadores com mais anos de 'casa', este continua a ser um grupo que é fácil de integrar?
É um grupo tranquilo, de amigos. Tentamos sempre dar as boas-vindas, que se sintam à vontade e dentro da família Sportinguista.
É, por esta altura, o jogador com mais participações em golos da Liga, com quatro marcados e três assistências. Traçou alguma marca em termos de números que gostasse de atingir?
Não, não (risos). Pelo menos que saia do campo a sentir-me orgulhoso pelo jogo que fiz. Tento apenas divertir-me, fazer o que gosto, ouvir o que o treinador me pede em cada jogo e dar o máximo pelo Clube.
Além do contributo decisivo que tem dado no Clube, tem voltado a ganhar espaço nas convocatórias da Selecção Nacional. Como se sente por estar de novo nesse caminho, especialmente com o Mundial ‘à espreita’ no fim da época?
Sinto que sou um miúdo que veio de uma terra [Vidago] em que dificilmente chegaria a este patamar, por isso representar a Selecção é sempre um orgulho para mim. Estar dentro daquele lote de jogadores é incrível. Sempre que o seleccionador fala comigo sinto-me como se estivesse a ir pela primeira vez. Adoro ir à Selecção, espero continuar a ir e se as coisas me estiverem a correr bem no Clube, certamente estarei mais perto de ir.
Até agora, no Sporting CP soma 204 jogos e 86 golos - já está no top-20 dos melhores marcadores de sempre - e conquistou três títulos de Campeão Nacional e todos os outros troféus nacionais. Tornou-se um dos jogadores mais importantes do Clube nos últimos anos e já tem o seu lugar na História. Como se relaciona com tudo isso?
É falar disso e ficar arrepiado... Gosto de sentir isso, embora não pense muito. Como disse antes, gosto de ir para o campo e sentir que sou uma pessoa feliz. Estou orgulhoso do que estou a fazer e a conquistar, e agradeço ao Clube porque deu-me a oportunidade. Tudo o que tenho hoje e que pude oferecer à minha família foi o Sporting CP que me deu. Fico muito contente e só espero continuar a retribuir tudo isso.