Diário de Palma de Maiorca - Dia 6
08 maio, 2023
A última página e um final diferente por escrever
Os mais vencedores também perdem. O desporto pode ser cruel e, este domingo, o futsal voltou a sê-lo com a equipa do Sporting Clube de Portugal. Mesmo fazendo bem as coisas, neste caso, dentro da quadra, e merecendo mais do que realmente se teve, às vezes, parece que nada é suficiente e isso só torna o sabor da derrota ainda mais amargo.
A intensidade máxima desde o primeiro segundo, o ambiente ensurdecedor no Velòdrom Iles Balears, a pressão inicial do AE Palma Futsal, as defesas sucessivas de Guitta e Luan Muller e o golo feliz de Mario Rivillos. A reacção de Leão, um Sporting CP em crescendo, a superioridade na segunda parte, um apoio incansável nas bancadas, uma equipa que veste a listada verde e branca como se da própria pele se tratasse, o calcanhar e o festejo efusivo de Zicky, o pontapé certeiro de Anton Sokolov dois minutos depois. Os gritos de golo, a reviravolta a cinco minutos do fim. Não, a reviravolta, não. A anulação do golo, o mesmo foco e serenidade dos Leões, as tentativas sem fim, mais defesas de Guitta e Luan. O prolongamento, num ápice, e os fatídicos penáltis. Do sofrimento à tristeza, a crueldade. O sentimento de injustiça e a frustração ainda na quadra, o silêncio no regresso. Como flashes, estas imagens vão-se repetindo, mas nada apaga o que ficou para trás deste desfecho inglório.
A calmaria da manhã antes da tempestade à noite.
O treino da manhã no dia e no palco da final: o tempo de preparação entre um jogo e o outro foi pouco, mas há pequenos ajustes a fazer. A equipa técnica apresenta o plano e os jogadores não só procuram aplicá-lo, como também têm abertura para contribuir e propor a partir da sua visão desde dentro das quatro linhas.
Ao sexto dia de concentração em Palma de Maiorca, ainda há talentos por descobrir, como é exemplo a arte no desenho do fisioterapeuta Luís Ribeiro, que foi corporalizando a ambição Leonina através da imagem certamente presente na mente de toda a comitiva Leonina.
Já no regresso, pela primeira vez durante estes dias, chovia e conjecturava-se, supersticiosamente, se esse seria um bom sinal para logo. E para lá chegar, no entanto, parece que o tempo não avança como dantes.
Entretanto, Carlos Alves, técnico de equipamentos, faz também a sua parte para que esteja tudo a postos e “durante uma horita”, apontou, foi preparando a ‘pele’ do Leão na sua rouparia improvisada no hotel. Antes da partida rumo à final, a equipa técnica de Nuno Dias deu a sua última palestra e, lá fora, já eram bem audíveis os cânticos Sportinguistas à entrada do hotel.
Já num Velòdrom Iles Balears cheio com mais de cinco mil pessoas, acabou por ser o sonho do anfitrião e estreante AE Palma Futsal a concretizar-se. Por sua vez, os Leões, tal como no ano passado em Riga, tiveram de ficar a assistir à festa, deixando nesta última página um final diferente por escrever.
Palma de Maiorca faz parte, a partir de hoje, da lista onde estão Riga (2022), Saragoça (2018) e Almaty (2011 e 2017). Más memórias, mas que não são para esquecer, porque “perder finais também dá calo”, como realçou o capitão João Matos na flash à Sporting TV após a final de hoje. Do outro lado, Almaty (2019) e Zadar (2021) continuam a ser as provas de que há um sonho insaciável e que vale a pena continuar a perseguir. Uma e outra vez, caindo e levantando.
São, no total, sete finais onde o Sporting CP marcou presença para discutir o desejado troféu da UEFA Futsal Champions League, e seis delas nos últimos sete anos. Os Leões de Nuno Dias têm-no feito parecer fácil, mas não é. Depois, esta transformação do extraordinário em rotina também tem o outro lado: não se consegue deixar de querer sempre mais. E essa é, talvez, a definição perfeita desta insaciável equipa do Sporting CP.
Ora, se depois desta desilusão há uma equipa capaz de se reerguer de novo é, certamente, esta, que caiu tantas vezes e de forma tão dura até conquistar o primeiro título europeu. E repetiu a dose, de sofrimento e de glória, para levantar também a segunda.
Termina-se aqui este diário, mas certamente que para lá deste ponto final haverá já outra página à espreita. É só virá-la. "O Sporting CP já se afirmou como uma das melhores - para mim, a melhor - equipas da Europa constantemente nestes palcos e certamente vamos estar aqui para o ano", disse ainda João Matos. Palavra de capitão.
Por Xavier Costa, em Palma de Maiorca.