Diário de Le Mans - Dia 3
02 maio, 2025
1 de Maio com tradição, reencontros e espírito de conquista
O terceiro dia em Le Mans começou com um aroma especial no ar. Literalmente.
Por aqui, o 1.º de Maio celebra-se com muguet — em terras lusas conhecido como lírio-do-vale — que, nesta geografia que calcorreamos, é oferecido como símbolo de sorte e felicidade.
Conta a lenda que, a 1 de Maio de 1560, o rei Carlos IX recebeu um ramo desta flor tradicional durante uma viagem à região de Drôme e por ela se apaixonou. Em todas as Primaveras seguintes, o monarca replicou o gesto às damas da corte, dando origem a uma tradição que perdura até aos dias de hoje.
Daí que, em 2025, a cidade se tenha enchido de pequenos ramos brancos e sorrisos. E, inevitavelmente, também de algumas manifestações — porque é Dia do Trabalhador, e os franceses não desperdiçam uma boa ocasião para se fazerem ouvir.
Com o calor a apertar e um céu de postal, a manhã teve sabor a passeio — não para todos, mas para a comitiva de comunicação, que saiu à procura de pintar o retrato da cidade onde sonhamos escrever história. O tempo passou a voar, entre os vitrais da imponente catedral de Saint Julien e as ruas de mil cantos, recantos e encantos, ornadas pela também típica arquitectura medieval que compõe a paisagem da região. Foi como uma viagem aos cenários de Astérix e Obélix. A poção mágica, essa, têm-na os nossos jogadores.
Quem também nos contou a sua história, sempre deixando consigo um rasto de boa disposição, foi Carlos ‘Pitas’. A tarde foi dele; ou, melhor, passada com ele. Figura incontornável da comitiva verde e branca, Carlos Alves é muito mais do que o homem responsável pelos equipamentos: é o homem dos sorrisos e de um Sporting CP vivido com paixão.
À medida que nos foi mostrando a logística de preparação para os treinos, ‘Pitas’ - assim apelidado pelo ex-Leão Dieguinho - contou que trabalha há dez anos no Clube e partilhou alguns segredos e superstições do balneário.
“O Bernardo [Paçó] treina sempre com um peúgo branco; preto, para ele, não dá. Às vezes, na brincadeira, meto um preto a ver se passa, mas ele está sempre atento”, revelou, entre gargalhadas.
Recordando as duas conquistas europeias do Sporting CP, o técnico de equipamentos falou sobre a alegria de vivenciar momentos tão únicos. “Sou Sportinguista e sinto-me muito orgulhoso de trabalhar aqui. Por isso, vencer a UEFA Champions League foi… só quem passa entende. É fora do normal, mas fica a sensação de que, no fim de tudo, o trabalho compensou.”
Com o foco em mais uma conquista, Carlos descreve esta como “uma semana em que todos trabalham para um único objectivo”, explicando que a sua responsabilidade passa por “preparar as peças de treino, deixá-las no corredor e ter tudo pronto” para que os atletas possam entrar na quadra sem outras preocupações senão a vitória.
Herói invisível, Pitas termina dizendo que todo o staff “está aqui para ajudar; quando conseguimos alcançar os nossos objectivos, é mérito de todos, porque cada um tem as suas funções e responsabilidades”. Uma boa máquina, oleada e vitoriosa, só acelera com união e com o contributo de todos.
Já ao final do dia, houve tempo para algum futsal. Mas o último treino pré-jogo, agendado para as 19h15 no palco de todas as decisões, trouxe também reencontros. À chegada ao recinto, a entrada de uns coincidiu com a saída de outros, e cruzámo-nos com Waltinho. O agora jogador do FS Cartagena fez parte do plantel Leonino em 2021/2022 e trocou abraços, gargalhadas e breves impressões com Merlim.
Bola a rolar, o treino foi aberto à comunicação social durante apenas 15 minutos, tempo suficiente para se sentir no ar o ambiente a jogo grande. A conferência de imprensa no final confirmou apenas aquilo que já se sabia: esta equipa respira ambição.
Nuno Dias mostrou-se consciente das dificuldades que os Leões enfrentarão, mas confiante na superação de todos. “O importante é a nossa preparação, as dificuldades que um clube com a qualidade do Illes Balears Palma nos vai colocar, e a forma como estaremos preparados para elas”, disse o líder verde e branco. Já o mago confessou que “recordar a final de 2023 ainda dói um pouco”, mas garantiu que “a equipa está preparada” para reescrever a narrativa.
“Não vimos de um bom resultado no campeonato, o que serve para nos lembrar como é bom vencer. Tenho a certeza de que os meus companheiros vão dar tudo para vencer em quadra”, apontou.
E já que falamos em conquistas, hoje também foi dia de celebrar no hóquei em patins, que voltou a erguer a Taça de Portugal após 35 anos de jejum. A previsão de Zicky, feita quando os comandados de Edo Bosch estavam em desvantagem, quase se concretizou à risca. O internacional português apostou num 5-3 quando o marcador registava um 3-2 a favor da UD Oliveirense. Mas os Leões do stick contrariaram (felizmente) o nosso pivot e fizeram o 6-3 a poucos segundos da buzina final, levando assim para Lisboa um troféu muito festejado.
Já nós, seguimos por cá. De coração ansioso, com cheiro a muguet no ar e a esperança de que novas conquistas estejam já ao virar da esquina. Que é como quem diz… com início marcado para amanhã.
Por Filipa Santos Lopes, em Le Mans.