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Adán

Por Pedro Almeida Cabral
23 Mar, 2023

Quando daqui a uns anos se revir o inesquecível jogo do Sporting Clube de Portugal contra o Arsenal FC, será obrigatório ver de perto e em câmara lenta o golo de Pote. Não foi apenas um chapéu do meio da rua, impecavelmente medido para desfeitear um desemparado Ramsdale. Foi sim um golpe de génio de um jogador que, por vezes, faz coisas que só mesmo ele consegue fazer. Tão marcante como o golo foi a imagem de um adepto arsenalista, de boca aberta, não acreditando no que havia sucedido. A partir de agora, esta imagem será inseparável do golo. A maior homenagem será essa: conseguirmos ver a chapelada de Pedro Gonçalves através da reação incrédula de um adepto do Arsenal FC. Coisas como estas só estão ao alcance dos grandes jogadores.

Não poderia começar esta crónica sem falar do monumental golo de Pote. Mas se ultrapassámos o todo-poderoso Arsenal FC, líder isolado do campeonato mais competitivo da Europa, a Adán o devemos. Falar deste jogo é falar de Adán. Ainda ontem tive oportunidade de ver um resumo das defesas de Adán coligido pela UEFA e o espanto não cessa de aumentar. O nosso guarda-redes fez nada mais nada menos do que oito defesas de excepcional dificuldade! Talvez a mais memorável de todas seja aquela em que desvia o remate de Trossard para o poste, aos 97’. E ainda nem sequer falei do penálti defendido, que permitiu a Nuno Santos selar a eliminatória com o golo final. Perante a bomba de Martinelli, Adán soube opor as suas duas mãos, negando o golo arsenalista com convicção. Foi uma exibição digna de um guarda-redes que foi, naqueles 120 e tal minutos, o melhor do Mundo. Não por acaso, foi eleito o jogador da semana da Liga Europa.

E é exactamente aqui que devemos ver como o futebol imita a vida de forma tão perfeita que explica a razão pela qual é o desporto mais popular do planeta. O mesmo Adán que nos valeu a passagem aos quartos-de-final da Liga Europa pela sétima vez, foi quem esta época esteve menos bem nalguns lances. Quando pensavam que o experiente espanhol poderia já não ter a frescura de épocas passadas, como aquela em que fomos campeões, ele surge com um jogo que foi decidido, sobretudo, por ele. Esta é a grande lição do desporto: há sempre margem para a nossa superação na constante luta que travamos connosco. Que Adán se tenha superado desta maneira é fabuloso. Que o tenha feito perante todo o Mundo envergando a camisola do Sporting CP fica para a eternidade.