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Foto Sporting CP

Frederico Varandas: "Este grupo não se rende"

Por Sporting CP
21 Fev, 2025

Presidente em entrevista exclusiva à Sporting TV

Em entrevista exclusiva à Sporting TV, Frederico Varandas, presidente do Conselho Directivo do Sporting Clube de Portugal, abordou esta sexta-feira vários temas da actualidade Leonina e do futebol português.

O dirigente Leonino começou por fazer um balanço da participação do Sporting CP na UEFA Champions League, explicou a onda de lesões que tem atacado o plantel e as movimentações no mercado de Inverno.

Frederico Varandas falou também sobre o perfil lutador de Rui Borges, justificou o apoio a Pedro Proença nas recentes eleições para a FPF e explicou, por fim, o silêncio institucional após o falecimento de Jorge Nuno Pinto da Costa.

Balanço da participação na UEFA Champions League

"O Sporting CP tinha um objectivo delineado no início da época: chegar ao playoff. Fizemos uma boa fase de grupos e conseguimos amealhar cerca de 50 milhões de euros. No playoff defrontámos uma equipa forte, vice-campeã europeia, mas fica-nos um sabor amargo porque, se tivéssemos outras condições, podíamos ter disputado a eliminatória. Temos de ser realistas e pragmáticos."

Mercado de Inverno

"Este plantel foi construído pelo treinador que tínhamos na altura, ajustado ao seu sistema de jogo. Foi um plantel que sempre deu bons resultados do ponto de vista competitivo. Havendo uma mudança da equipa técnica, é um plantel ajustado a um sistema de jogo que já não se aplica.

Preparámos a época ainda no final da época anterior e, na altura, o Sporting CP traçou um objectivo ambicioso, mas realista. Fizemos algo que nunca tínhamos conseguido: não vendemos um único titular de uma equipa que fez a melhor época dos últimos 70 anos a nível de performance desportiva. Além disso, a SAD investiu cerca de 65 milhões de euros nos jogadores que entraram, como o Maxi Araújo, o Conrad Harder, o Zeno Debast ou agora o Rui Silva. Isto foi um esforço muito grande para a SAD. Nós fizemos uma aposta consciente, mas muito arrojada do ponto de vista do investimento.

Não é por terem existido lesões que temos uma gaveta de onde tirar fundos ilimitados. Quem me dera ter outra capacidade de investimento, mas, além de tudo, o mercado de Janeiro é extremamente difícil e caro. Quanto é que custa um jogador titularíssimo, indiscutível?

Quero situar os sócios do Sporting CP para que se lembrem do esforço financeiro que está a ser feito. Neste mercado, mais uma vez, recusámos vender jogadores. Estamos na luta, e em primeiro lugar, mesmo com todas as contrariedades. Fazer outro tipo de investimento não é a realidade do Sporting CP, mas também importa não esquecer que, hoje, a capacidade de investimento é quase o dobro do que quando aqui chegámos."

Bicampeonato

"Sou sócio do Sporting CP desde que nasci. Um sócio sempre militante, activo na vida do Clube, com 21 anos de Gamebox. Tenho 45 anos. Em 40 anos, celebrei dois títulos. Inesquecíveis, mas foram apenas dois. Desde que esta direcção tomou posse, já celebrámos o mesmo número de campeonatos. Temos de perceber que a palavra bicampeonato era inimaginável no universo Sporting CP: em 40 anos, dois clubes ganhavam o título alternadamente e nós ganhávamos uma vez a cada 19 anos.

Somos questionados, mas esta equipa está em primeiro e temos o símbolo de campeão nas camisolas. Se perdermos o campeonato claro que é responsabilidade nossa, mas fico muito feliz por a palavra bicampeão existir no dicionário do Sporting CP. E vai continuar a existir."

Saídas de Marcus Edwards e Vladan Kovačević

"A saída do Edwards foi uma decisão da administração. É jogador do Sporting CP, um activo nosso, com muito talento e em quem acreditámos. Temos de ser melhores com ele para ter melhor dele, e ele tem de ser melhor também.

O Kovačević não teve um início fácil, que provavelmente o marcou, e não conseguiu adaptar-se como esperávamos. Não correspondeu às expectativas criadas e daí a vinda do Rui Silva. Tínhamos de ter uma prioridade no mercado, dentro do das limitações financeiras, e um guarda-redes foi essa prioridade."

Onda de lesões

"A lesão existe no desporto. Temos tido épocas com muito poucas lesões. O Daniel Bragança fez uma lesão grave há dois anos, mas quer do ponto de vista das lesões traumáticas e musculares, foram até agora muito poucas. Sempre tivemos uma óptima disponibilidade dos nossos atletas para treino e jogo. São factos.

Este ano temos tido muitas lesões, sobretudo traumáticas. Em oito lesões, cinco são traumáticas e três delas graves. As outras três, musculares, são normais dada a exposição a que estes jogadores estão sujeitos.

O que é que acontece? Quando temos entre três a quatro jogadores lesionados, temos dois problemas. O primeiro, não contamos com estes jogadores. O segundo, que os jogadores que estão disponíveis não vão poder rodar. Isto traduz-se em sobrecarga. Lesões trazem sempre mais lesões."

Gestão das lesões

"Em 2018 iniciámos a Unidade de Performance, que tem os melhores profissionais a nível de recursos humanos, e a quem nada falta do ponto de vista de tecnologia. Esta unidade, que pertence à Direcção Clínica, faz toda a gestão das cargas. Temos este sistema implementado desde sempre e os profissionais são os mesmos.

O Director Clínico, o Dr. João Pedro Araújo, é um médico referenciado a nível nacional e internacional. Pertence a uma rede de médicos da FIFA, requisitados nas grandes competições extra-clubes. O Dr. João Pedro Araújo está requisitado para a final do Mundial de Clubes que vai acontecer agora no Verão. Não é preciso dizer mais nada sobre a sua competência.

Temos um responsável pela fisioterapia que este Verão recebeu uma proposta para ser responsável do mesmo departamento de um grande clube inglês.

O Departamento Médico e a Unidade de Performance existem para tratar lesões, mas não as evitam. Existem duas formas de encarar este tipo de adversidades. Podemos começar a disparar para todo o lado - quem é o culpado?, isto é bruxedo, é a relva, as botas, o treino – ou podemos gerir com calma, serenidade e de forma racional. Está a ser duro? Está, muito duro. É duríssimo para o treinador.

Mas é muito importante que os Sportinguistas percebam que este grupo não se rende. É um grupo muito forte, unido e de campeões nacionais. Não vai ser nada fácil para nenhuma equipa tirar-lhes esse título. Não vai.

As lesões podem condicionar? Podem. Vão condicionar? Acho que não. Pela fibra e pelo querer dos meus jogadores. Como Presidente e ex-Director Clínico olho para as próximas semanas e sei que vamos ter de resistir. Tenho a certeza que aguentando estas três semanas aquele grupo vai celebrar o campeonato mais saboroso de todos."

Número de jogos

"Do ponto de vista científico, com a mudança do modelo competitivo, o número de lesões aumentou em 7%. É muito. Se é circunstancial ou não a própria UEFA precisa de analisar, porque isto é um problema não apenas a nível doméstico e internacional nos clubes – é também para as Selecções.

A forma de prevenir tantas lesões pode passar por abdicar de competições como a Taça da Liga, por exemplo. O Sporting CP tem de encarar de forma diferente a competição. Queremos estar nestes jogos da UEFA Champions League e os jogadores não são sobre-humanos. São muitos clubes com lesões em massa e são muitos clubes que disputam a Champions."

Saída antecipada de Hugo Viana

"Havia um compromisso desde Outubro, quando o Hugo Viana aceitou o convite do Manchester City, mas por razões pessoais e familiares informou-me que depois do mercado de Janeiro queria seguir o seu caminho. O Sporting CP não tinha outra alternativa."

A aposta em João Pereira

"De uma forma muito rápida, e voltando àquele 11 de Novembro, seria muito difícil tomar uma decisão diferente. Até pela construção do plantel. O João Pereira jogava num modelo semelhante. Aquilo que posso dizer hoje, e esta é a interpretação de quem viveu a situação de perto, é que qualquer treinador que viesse substituir o Ruben Amorim teria tido dificuldades. Os jogadores não estavam receptivos a mudanças. Desde que aqui estamos, o João Pereira está a fazer a melhor época na equipa B e mesmo com muitos desfalques, está na fase de subida para 2ª Liga. O João vai fazer o seu caminho e provar o seu valor."

A aposta em Rui Borges

"Estou muito satisfeito pela forma de trabalhar e pela forma de olhar para o problema, em que me revejo. A confiança que ele transmite aos jogadores é a de que vamos ganhar. Os jogadores acreditam nele porque é um treinador calmo, sereno. Ele é calmo e sereno e, mesmo sem horas para treinar, tem mostrado capacidade de adaptação. Há quem se lamente a vida toda e o Rui Borges é um lutador que casou muito bem num grupo com um calendário complicado pela frente, com muitas lesões. O Sporting CP luta e vai continuar a lutar."

Análise às arbitragens

"Temos uma forma de estar onde tentamos valorizar o futebol português, criar um ambiente positivo. É muito fácil, estando neste lugar – falo do Sporting CP e dos nossos rivais –, cair na tentação de atacar e crucificar um árbitro de forma sistemática depois de um desaire. Não nos revemos nessa forma de estar e de comunicar.

Mas se puder fazer uma análise desde Dezembro, considero que o critério de arbitragem de que o Sporting CP é alvo nos jogos é diferente do dos rivais que lutam para os mesmos objectivos.

Gosto de objectivar e quero explicar, de uma forma clara, os motivos para dizê-lo.

A nós, Sporting CP, custa-nos ver, por exemplo, um jogador encostar a cabeça a um árbitro e nada acontecer, mas um jogador nosso encostar a cabeça a um jogador rival – mal, tem de levar cartão amarelo – e ser expulso por agressão.

Frente ao Arouca FC, marcou-se um penálti por empurrões e agarrões. Este é um critério? Tudo bem. Há matéria de facto para o marcar? Tudo bem. Mas na mesma jornada, o FC Porto venceu por 1-0 com um golo onde há um empurrão grosseiro que o VAR desvaloriza. Este critério faz confusão.

Há duas jornadas, o SL Benfica tem um penalty a favor por um lance de mão. Ao minuto 90, acontece um lance semelhante, na mesma zona do terreno, e o jogador do SL Benfica faz um gesto muito mais grosseiro do que o do adversário. Não houve critério igual.

O CA reconheceu os erros na altura do João Pereira, que custaram 5 pontos ao Sporting CP. Agora também nos custou pontos. A comunicação social faz a avaliação das arbitragens, com comentadores e antigos árbitros, e mais ponto menos ponto este campeonato estaria decidido, segundo eles. Estamos a falar de muitos pontos de diferença."

Expectativa com a chegada de Luciano Gonçalves ao Conselho de Arbitragem da FPF

"Espero que os árbitros marquem o penálti que tiverem de marcar, seja no Estádio José Alvalade, no Dragão, na Luz ou noutros estádios. E que, se a seguir forem alvo da newsletter habitual, daquela intoxicação, não se deixem intimidar no jogo seguinte.

Os clubes que se identifiquem com uma comunicação agressiva percebem que compensa fazer comunicados sobre os árbitros porque os condicionam. E quando um árbitro cede nisso está a complicar a vida a todos os seus colegas."

Apoio a Pedro Proença

"A principal razão pela qual o Sporting CP apoiou Pedro Proença foi pela visão que temos para melhorar a transparência e a qualidade da arbitragem. Ao longo destes anos, o Sporting CP bateu-se por determinadas medidas e fiquei muito feliz por vê-las no seu programa. Medidas básicas como a publicação das notas dos árbitros: ver quem os avalia, qual o processo. Quem não deve não teme.

Depois, a especialização da carreira de VAR: o Sporting, Pedro Proença e Luciano Gonçalves defendem que exista uma carreira especifica. Em terceiro lugar, a criação de uma entidade externa para a gestão da arbitragem profissional, à imagem do que se faz noutros países. Quarto ponto, a valorização da carreira do árbitro: se alguém tem responsabilidade neste jogo é o arbitro. Tem de ter melhores condições financeiras, de treino e de recrutamento e isso estava no programa."

Resposta a Augusto Inácio

"Tenho, desde 2015, ainda era Director Clínico do Sporting CP, duas clínicas de medicina desportiva. Nessa altura, em virtude de o Departamento clínico do Sporting CP não ter determinados aparelhos, usávamos a minha clínica. O próprio presidente Bruno de Carvalho queria que eu cobrasse esses serviços, mas nunca foi cobrado um cêntimo entre 2015 e 2018.

Quando venci as eleições, uma das minhas preocupações foi precisamente equipar o Departamento Clínico dessas condições. Por isso, e resumindo, de 2015 a 2025 não há um cêntimo pago pelo Sporting CP às minhas clínicas.

O senhor Augusto Inácio terá de responder em sítio certo pelas suas afirmações. Conheço-o muito bem, trabalhei com ele duas vezes. Com Bruno de Carvalho preso por dias, aceitou voltar ao Sporting CP com um contracto considerável. Dispensei-o para contratar o Hugo Viana.

Um dos processos que herdámos foi o do Sinisa Mihajlovic. Augusto Inácio testemunhou, em alturas diferentes, a favor do Sporting CP e depois a favor do Mihajlovic e o CAS retirou-lhe o testemunho, por não ser credível. Foi decisivo para o Sporting CP ter de pagar 3 milhões de euros a Mihajlovic.

No dia em que ouvir Augusto Inácio dizer bem de mim, tenho de pensar se sou a pessoa certa para educar os meus filhos."

Falecimento de Pinto da Costa

"Por respeito aos familiares do senhor Pinto da Costa, vou tentar ser o mais clean possível na resposta.

Não coloco questões pessoais acima das institucionais. O nosso silencio não teve nada a ver com o presidente do Sporting CP e sim com a instituição Sporting CP.

Se a instituição não se identifica com alguém que em vida prejudicou seriamente o Clube, a indústria do futebol e que não representa os nossos valores seria uma hipocrisia mudar o que pensamos por a pessoa ter morrido. Nunca vou abdicar da minha forma de estar. Enquanto estiver aqui, valer-me-ei dos meus princípios e dos meus valores. Institucionalmente, o Sporting CP seria hipócrita se emitisse uma nota de pesar. E o Sporting CP não o é."