Guia para um guião
09 Fev, 2017
Editorial do director interino para a edição nº. 3610
Pareceu o fim do mundo. Pior do que os comentários de Jorge Jesus ao desempenho de João Palhinha na primeira parte do clássico no Dragão só mesmo as alarvidades que Donald Trump diz e, para mal do Mundo, assina como decretos presidenciais até encontrar travão na justiça. Que injustiça! O treinador do Sporting, imaginando-o de costas largas capaz de suportar tudo o que dizem e escrevem sobre si, é um daqueles protagonistas do futebol português a quem tudo lhe é apontado, desde o estilo de intervenção às escolhas tácticas, independentemente de lhe ser reconhecido talento e conhecimentos que o colocam no topo da sua categoria. Era assim antes de vir trabalhar para Alvalade e não há razão aparente para que, desde então, tenha desaprendido ou perdido qualidades.
Não houve, sequer, episódio nas palavras do treinador que avaliou publicamente o rendimento de um jogador numa parte de um jogo. Houve, isso sim, uma crítica construtiva, bastando para isso recuperar a ideia deixada por Jorge Jesus ao dizer que Palhinha saiu do clássico um jogador muito diferente, naquele que constituiu mais um degrau no seu processo de aprendizagem. Nem o treinador culpou o jogador pela derrota nem tão-pouco o jogador acusou a crítica como destrutiva. Aliás, percebeu-se mais tarde, com o desenrolar das acusações vindas de fora do Clube, e pelas mensagens deixadas nas redes sociais, que tanto Palhinha como outros elementos do plantel não tiveram a mesma leitura que aquela que circulava na imprensa.
O que não encontrou o mesmo eco foi o facto de o FC Porto ter passado a segunda parte quase completa a jogar com mais um – a partir do minuto 50 –, no momento em que Maxi Pereira foi advertido com um cartão amarelo, num lance com Rúben Semedo, quando a expulsão teria sido o castigo mais adequado. Sobretudo porque pouco tempo antes, em lance com Bryan Ruiz na grande área portista, se vê o pé direito do uruguaio nas costas do costa-riquenho, junto à linha de fundo. Um clássico dentro do clássico.
A destacar o facto de o Sporting ter começado o jogo no Dragão com seis jogadores oriundos da formação e ter terminado com o mesmo número, apesar das substituições. Seis. Metade é sub-23. O reajustamento no mercado de Inverno, que nesta edição se publica os quadros referentes às entradas e saídas, assim o ditou, mas não haverá razão para maior orgulho da família leonina do que ver os meninos, nascidos e criados numa das melhores academias de futebol do Mundo, a terem as suas oportunidades na equipa principal. Para muitos deles, para não dizer a totalidade, a concretizarem o sonho que os move desde o primeiro momento em que jogaram de leão ao peito. Resultado? A segunda parte frente ao FC Porto revelou um Leão dominador, ainda que insuficiente para o marcador que todos desejávamos.
A Sul, mais concretamente nas Açoteias, o regresso do Sporting à Taça dos Clubes Campeões Europeus de Corta-Mato 19 anos, foi pintada de prateado, individual e colectivamente. Liderados pelo argelino Rabah Aboud, a quem poucos deram o devido crédito à contratação, a formação orientada por Nogueira da Costa acabou por prestar a justa homenagem a Moniz Pereira, a quem o atletismo leonino, e nacional, muito (tudo!) deve a saída da obscuridade para o estrelato. Conquista que se soma à vitória de Nelson Évora no Meeting Internacional de Val de Reuil, a primeira prova desde que se tornou leão, e que abre excelente perspectivas para os campeonatos nacionais de pista coberta, que este fim-de-semana vão decorrer em Pombal. É de esperar que a próxima edição traga à manchete mais um (ou vários) títulos de campeão. Que nunca se desvalorizem as conquistas maiores, sejam em que modalidade forem.
Boa leitura.