Entre a equipa principal e o Ensino Superior: a nova etapa de João Simões
24 Set, 2025
Médio de 18 anos vai conciliar o futebol com a universidade em 2025/2026
Em 2024/2025, estreou-se na equipa principal do Sporting CP, marcou também o seu primeiro golo, disputou a UEFA Champions League, sagrou-se Campeão Nacional e… acabou o 12.º ano. Nesta nova época, para lá dos desafios em campo como jogador da equipa A, o médio de 18 anos tornou-se estudante universitário na Faculdade de Motricidade Humana.
Na segunda-feira à noite foi suplente-utilizado na vitória sobre o Moreirense FC (3-0), poucas horas depois, na terça-feira, teve pela frente o seu primeiro dia como aluno do Ensino Superior. Eis a nova etapa que se abre na vida de João Simões em 2025/2026. Incomum na ‘alta roda’ do futebol, mas possível. "Faço o que me faz feliz, mas o mínimo que podia fazer para valorizar isso era dar tudo em campo e mais um bocadinho na escola", confessou. Uma excepção à regra.
À saída da Academia Cristiano Ronaldo, prestes a rumar à Faculdade de Motricidade Humana (FMH), na Cruz Quebrada, em Oeiras, o jovem médio revelou-se "um bocado nervoso", acompanhado pela Sporting TV na sua primeira ida à universidade. Mais nervoso do que antes de entrar em campo? "Muito pior. Prefiro no campo, estou mais tranquilo. É a minha praia (risos)", admitiu inicialmente.
Com uma média de 15,07 valores e através do regime especial condizente com o seu estatuto de alta competição, que lhe oferece outra flexibilidade para cumprir a licenciatura, ingressou no curso de Reabilitação Psicomotora. "Espero ter uma boa carreira e quero usar [os estudos] para nunca deixar o desporto. Gosto muito do treino e de perceber o porquê de fazer certas coisas, a parte física também, e, assim, ter algo para o futuro, porque é importante", justificou.
Perspectivando este novo passo académico, João Simões não tem dúvidas de que “vai ser um bom desafio, mas não vai ser fácil, obviamente”. Até pelos obstáculos que o futebol profissional ao mais alto nível inevitavelmente vai impor no seu quotidiano, mas o algarvio quer enfrentar as dificuldades com a organização e dedicação possíveis.
"No primeiro semestre só vou ter uma disciplina: anatomofisiologia I. Depois, depende de quando estou ou não em estágios e, às vezes, vou ter de tentar acompanhar à distância com o que os professores colocam na plataforma”, referiu, apostado em “estudar e fazer o máximo que conseguir" neste primeiro ano de faculdade.
Já ao volante do seu carro e a caminho da primeira aula, o canhoto deu conta do papel de apoio dos pais e da ‘picardia’ saudável com o irmão que sempre o motivaram a nunca deixar cair os estudos, independentemente do êxito crescente que foi surgindo de verde e branco.
"Quando vim para aqui [2018/2019], a minha mãe disse-me logo: 'à primeira negativa que tiveres, independentemente de estares no Sporting CP, vens para casa’. Sempre me foi incutido e o meu irmão mais velho foi sempre o meu exemplo. Eu também queria ser sempre melhor do que ele também na escola (risos). No segundo ciclo eu tirei melhores notas do que ele, depois vim para o Sporting CP, a partir do nono ano comecei a ir para a selecção, a ter estágios em jogos fora e faltei mais. Não baixei as notas, mas ele tinha 18, 19 e 20. Eu tinha 15, 16, às vezes um 18... No 12.º, quando estive com a equipa A, desci um bocado para mais 15 e 14", lembrou João Simões.
E foi com um sorriso rasgado que recordou, também, a fase de transição do Algarve para a Academia, rumo a uma nova realidade dentro das quatro linhas e, também, numa nova escola, embora com alguns colegas em comum nos dois espaços e um acompanhamento fundamental. Assim, tudo “foi mais fácil”, reconheceu.
"A minha turma no nono ano era com o Rafael Mota, o Tomás Mendes, o Afonso Moço... Às vezes começávamos a cantar músicas do Sporting CP a meio da aula (risos). Tive de me adaptar quando vim cá para cima jogar e também na escola, mas o pessoal da Academia facilitou tudo, sem dúvida. Sempre nos incutiram a importância da escola, porque o futebol não é para sempre. Foram e são muito importantes na nossa carreira dual", considerou ainda.
Agora, às responsabilidades de ser jogador profissional na equipa principal dos Leões juntam-se os primeiros passos na vida adulta: da carta de condução a viver sozinho, passando pela universidade. Tudo em pouco tempo. "Começo a ver o dinheiro a sair do bolso e começa a custar (risos)", atirou, bem-disposto.
Até aqui, foram muitos anos como residente na Academia e é por lá que se sente bem e que faz questão de continuar a passar muito tempo. "Quero ajudar os miúdos que chegam à Academia e manter contacto com as pessoas que me ajudaram. Sei das dificuldades que estão a passar por estar longe da família e tento sempre transmitir-lhes que façam tudo valer a pena. Só a experiência de estar no Sporting CP, o que nos incutem na Academia, só isso já vale a pena", realçou João Simões antes de deixar uma mensagem para os mais novos e que estão a tentar conciliar o futebol com a escola.
"Nunca se esqueçam da escola. Dá-nos outras ferramentas que são importantes também para o sucesso no futebol. É bom ter o desporto e conseguir viver disso, mas para já, infelizmente, nem todos chegam lá. Sabemos da dificuldade em ser jogador de futebol, é uma percentagem muito pequena, mas mesmo assim é preciso ter um plano para depois ou caso algo aconteça durante a carreira, porque também é curta", reflectiu, acrescentando: "Ouçam os pais e os professores".
Por seu turno, aos 18 anos, João Simões é jogador do Sporting CP formado no Clube, Campeão Nacional e, agora em simultâneo, estudante universitário. "Não podia pedir algo melhor do que tudo isto", afirmou já por perto da Faculdade de Motricidade Humana.
E como se de uma competição se tratasse, depois deste primeiro dia é com pensamento jogo a jogo - ou dia a dia - que parte para o novo desafio. "Tenho de ter vontade de aprender. Hoje estou cá, para a semana não sei, devido à Champions. Tenho de aproveitar ao máximo o tempo que estou por cá", sublinhou, já de mochila às costas e pronto para abrir a porta (literalmente) do Ensino Superior. 2025/2026, época desportiva e, em simultâneo, ano lectivo. Será difícil, tal como tem sido conciliar tudo nos últimos anos, mas não impossível, e João Simões é a prova.